sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma entrevista sobre o ensino da Matemática

Postado por Welington Machado - sexta-feira, 15 de outubro de 2010


Uma entrevista sobre o ensino da Matemática


Os jornais publicaram recentemente notícias de um estudo feito pelo MEC, sendo o qual o ensino de Matemática nas escolas brasileiras foi o que pior desempenho teve entre todas as matérias do currículo normal nos últimos anos.


Por conta disso, selecionei alguns trechos de uma entrevista dada pelo professor Elon Lajes Lima ao Jornal do Brasil e à TV Educativa do Rio de Janeiro. Achei muito interessante a entrevista pois o professor Elon aborda não só os problemas envolvendo as dificuldades no ensino de Matemática mas também os aspectos gerais do ensino em todas as disciplinas. A seguir, as opiniões do professor.


P. são as perguntas feitas e R. são as respostas dadas.


P. Por que o ensino da Matemática vai tão mal?


R. Todo o ensino vai mal.


P. Mas o da Matemática vai pior.


R. Entre muitas coisas más, uma delas é sempre pior do que as outras. Existem vários motivos para o baixo desempenho dos alunos em Matemática.


P. Um dos motivos da Matemática ir pior seria o fato dela ser mais difícil?


R. Não. Qualquer criança cuja capacidade mental lhe permita aprender a ler e escrever é também capaz de aprender a Matemática que se ensina nas séries iniciais e finais do ensino fundamental.


P. Então, todo jovem normal é, em princípio, capaz de aprender toda a Matemática que deve ser ensinada até a 8a série (9o ano)?


R. Absolutamente sim. Sem dúvida.


P. E isso de fato acontece?


R. No Brasil não. Noutros países (como, por exemplo, o Japão), sim.


P. Isso quer dizer que os jovens desses países são mais inteligentes do que os nossos?


R. De maneira nenhuma. Nem mais nem menos. Há, por exemplo, brasileiros de descendência japonesa em número suficiente para vermos que não é assim.


P. Você disse que são vários os motivos para o baixo rendimento no ensino da Matemática. Quais são eles?


R. Antes disso, eu havia dito que todo o ensino vai mal. Por isso acho melhor começar por aí. Os países ricos, aqueles onde o povo tem uma vida mais confortável, são precisamente aqueles em que as pessoas têm acesso a uma educação de melhor qualidade. Isso significa escolas bem equipadas e professores competentes. Esse quadro resulta da conscientização, arraigada na cultura nacional, de que a educação, além de ser a única porta para o bem-estar, é um direito do cidadão e um dever do Estado.


P. Como poderíamos esperar professores competentes no Brasil, com salários tão baixos?


R. Os salários dos professores brasileiros que atuam no ensino fundamental e médio são simplesmente vergonhosos, humilhantes. Por isso as escolas têm tanta dificuldade para recrutar professores capazes e os cursos de licenciatura estão vazios. Entretanto, os baixos salários não são, em si, a causa primordial do problema. São antes uma conseqüência de não ter o nosso povo a noção exata do valor da educação e daí seus representantes eleitos padecerem do mesmo mal. Se houvesse entre nós a conscientização a que me referi acima, haveria o reconhecimento da importância dos professores e isso se refletiria nos seus salários, como ocorre nos países civilizados.


P. Podemos agora focalizar a Matemática?


R. Sim. Ao contrário das demais matérias que se estudam na escola, que se referem a objetos e situações concretas, a Matemática trata de noções e verdades de natureza abstrata. A afirmação 2 x 5 = 10 tanto se aplica aos dedos de duas mãos quanto aos jogadores que disputam um jogo de basquete. A generalidade com que valem as proposições matemáticas exige precisão, proíbe ambiguidades e por isso requer mais concentração e cuidado por parte do estudante. Por outro lado, o exercício dessas virtudes durante os anos de escola ajuda a formar hábitos que serão úteis no futuro. A perseverança, a dedicação e a ordem no trabalho são qualidades indispensáveis para o estudo da Matemática. Note-se que não se trata de talentos e que não se nasce dotado delas.






P. Então, afinal de contas, a Matemática é mais difícil.


R. Se o fato de exigir empenho, atenção e ordem significasse ser mais difícil, a resposta seria sim. As ideias e regras matemáticas no nível que estamos considerando são, porém, todas extremamente simples e claras, bem mais simples e claras, por exemplo, do que as regras da crase ou mesmo do que a lei do impedimento no futebol. Aqui já vão dois dos motivos que você me pediu para o mau resultado no ensino da Matemática e também de todas as outras matérias: pouca dedicação aos estudos por parte dos alunos (e da sociedade que os cerca, a começar pela própria família) e despreparo dos seus professores nas escolas que frequenta.






P. Ainda há outros?


R. O conhecimento matemático é, por natureza, encadeado e cumulativo. Um aluno pode, por exemplo, saber praticamente tudo sobre a proclamação da república brasileira e ignorar completamente as capitanias hereditárias. Mas não será capaz de estudar Trigonometria se não conhecer os fundamentos da Álgebra, nem entenderá essa última se não conhecer as operações aritméticas, etc.


P. Aos poucos você vai revelando os motivos para o pouco êxito no ensino da Matemática: em primeiro lugar, o sentimento de que a educação é o caminho para o bem-estar não é suficientemente forte no espírito do nosso povo. Esse é o motivo fundamental, no seu entendimento. Os demais são: 1o) A Matemática, por ser exata, requer atenção, cuidado e ordem. 2o) O conhecimento matemático é cumulativo, cada passo precisa dos anteriores. 3o) Raramente a Matemática é bem ensinada. Você tem alguma proposta para melhorar esse estado de coisas?


R. Quanto ao motivo primordial, ele tem muito a ver com o amor-próprio nacional. Exemplos mais recentes de ressurgimento das cinzas com base na educação podem ser vistos no Japão e na Coreia. No nosso caso, que se pode fazer? Talvez gritarmos bem alto: “Brasileiros, criem vergonha na cara!”.


Finalmente, quanto ao ensino, não há mistério nem milagre. O bom professor é aquele que vibra com a matéria que ensina, conhece muito bem o assunto e tem um desejo autêntico de transmitir esse conhecimento, portanto se interessa pelas dificuldades de seus alunos e procura colocar-se no lugar deles, entender seus problemas e ajudar a resolvê-los. Não há fórmulas mágicas para ensinar Matemática ou qualquer outra disciplina. Não há caminhos reais, como Euclides já dizia a Ptolomeu. A única saída é o esforço honesto e o trabalho persistente. Não só para aprender Matemática, mas para tudo na vida.


Essas são, em resumo, minhas opiniões.

Um comentário:

  1. Que porcaria!!!!!!!!!!!!!! Vc é mesmo uma pedagoga???
    Realmente a educaçao no no Brasil é vergonhosa.

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